terça-feira, 4 de junho de 2013

Experiências de leitura e escrita: Uma certa Dona Elizabeth

Tive uma professora de LP que era bem tradicional. Não tinha atividades diversificadas. Era a dona Elizabeth, a quem eu serei grata enquanto viver. Sério! Era uma japonesa baixinha e brava.Era tão baixinha que tinha um fusca e, para poder dirigi-lo, usava uns tamancos de plataforma enormes para alcançar os pedais e uma almofada para poder enxergar a rua entre o painel e o volante. Mas tamanho não é documento. Era muito exigente e competente. Ela nos ensinava gramática, interpretação de textos e cobrava muito a parte de ortografia. Cada palavra errada, tínhamos que copiar 10 vezes corretamente. Letra feia, nem pensar. Era chegar com a "cópia" diária feita com letra mal feita que ela arrancava a página e mandava trazer no dia seguinte refeita, junto com a cópia do dia. Revolta? Nem pensar. Sei o quanto ela e o trabalho dela foram importantes para mim.

Tínhamos um livro de leitura por série. Naquela época, os pais precisavam começar a guardar um dinheirinho no final do ano para no ano seguinte poder comprar os livros didáticos. Encapávamos com todo o cuidado para durarem o ano inteiro e ainda podermos passar para os irmãos mais novos. No meu caso, tenho um irmão mais novo. Hoje, fico pensando como alguns alunos desprezam o material que recebem. Mas voltando às minhas lembranças, antes que as aulas se iniciassem, já tinha lido todos os textos de Português. Lia e relia. Mas não eram apenas os livros de português que me chamavam atenção. Gostava de ler os didáticos de história, em especial os que traziam informações sobre a idade da pedra e o Egito antigo. Saber sobre múmias era muito legal naquela idade.

Voltando à aula da D. Elizabeth. Ela nos pedia para que treinássemos em casa a leitura de um determinado texto. Líamos e relíamos em voz alta. No dia seguinte, ela fazia uma dinâmica: Um aluno começava a ler, mas quando havia uma pequena falha, uma vírgula atropelada, uma gaguejada, uma palavra mal lida e os demais colegas deviam sinalizar com uma batidinha com a  caneta na mesa. A vez passava para o colega de trás. É óbvio que a tensão nos deixava ansiosos, mas com o tempo, aprendemos a lidar com aquela situação que se tornou desafiadora para nós. Com o tempo, conseguíamos ampliar nossa leitura para alguns segundos a mais, até que longos trechos podiam ser lidos pelos alunos. Um desafio que, longe de se tornar um obstáculo, tornou-se uma motivação para treinarmos mais e mais a leitura em casa. A mãe na pia e no fogão ouvindo a longa leitura do texto, dando uma ou outra dica para melhorar a leitura: "Mais devagar", "Não esqueça da vírgula" e assim ia progredindo. Um elogio da D. Elizabeth valia muito :-)

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